Nesta Paralimpíada, os atletas tiveram uma ajuda importante na conquista das medalhas: a tecnologia.
Não foi automático. Foi preciso um tempo para que Renato passasse da tristeza causada pela amputação, para a glória de ser um vencedor.
Ele sofreu um acidente de trabalho há 12 anos: ficou sem o pé esquerdo e uma parte da canela.
A medalha de prata do revezamento 4 por 100 mostra que isso é assunto do passado.
(Eu digo para as pessoas que eu não perdi, eu só ganhei), disse Renato.
O tempo não seria suficiente para transformar pessoas amputadas em atletas de alto rendimento se não fosse a tecnologia. É ela que complementa o corpo, dá prosseguimento aos sonhos e muda o rumo e o sentido da vida dessas pessoas.
Durante a Paralimpíada foi um desfile de próteses poderosas.
Liam Malone, neozelandês, não tem as duas pernas e deixa todo mundo para trás nas pistas de corrida. As próteses dele são de fibra de carbono, o material mais moderno, resistente e flexível.
É o mesmo modelo da prótese que Renato usa para correr.
(Ela tem o formato da pata traseira de um guepardo, que é um dos animais mais velozes que existem), explica ele.
O mais impressionante é a conexão dessas próteses com o cérebro. Os atletas dizem que o comando que recebem é o mesmo de antes da amputação.
(O cérebro diz, corra, e eu obedeço), conta Malone.
E Renato continua com sensações no pé que ele perdeu:
(Quando eu vou lavar alguma coisa em casa, lavar garagem, lavar carro, eu sinto meu pé molhado).
A neurologia explica porque o cérebro não faz distinção entre a prótese e a perna original.
(A prótese funciona como se fosse uma nova peça do quebra-cabeça, que é encaixada na periferia, mas que é reconhecida pelo sistema nervoso central como um novo membro e com um mecanismo de readaptação. A prótese funciona como um substituto do membro. E, como substituto do membro, ela continua enviando informações e continua estimulando seu cérebro), explicou o neurologista da UFRJ Flávio Henrique Costa.
Se o resultado é bom, só falta ser acessível a todos. A prótese mais moderna e eficaz é importada, e custa entre R$ 15 mil e R$ 30 mil.
As duas pernas de Liam Malone foram compradas com ajuda de amigos.
Aumentar o acesso de atletas a equipamentos de alto rendimento é hoje um grande desafio.
(Acredito que o número de pessoas que gostariam de estar fazendo o que eu faço é muito grande. A gente lamenta muito isso. Lamenta muito e gostaria muito que tivesse um olhar mais sensível para esse tipo de causa porque é recuperar um ser humano), afirma Renato.
Fonte: G1.com